sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

The Kings Club e a poesia


Ok, uma caldeirada gostosa para o jantar. Uma garfada e o olho na tela a pensar o que escrever hoje. Não consigo muitas vezes jantar com os meninos pois eu encontro-os já a dormirem. Minha esposa e também a minha maninha, estão com os olhos colados à televisão, direi que são viciadas em novelas? Penso que sim pois não perdem nenhum episódio das novelas brasileiras que invadem os lares angolanos. São 22 horas e 53 minutos, cansado depois da jornada mas ainda me animo para soltar algumas letras, afinal assumi um compromisso, escrever todos os dias. É bom porque sinto novamente o fogo, a paixão de escrever. É como o alcoólatra que pára durante um tempo e, basta provar um golinho para voltar ao vício.

O dia foi pesado no meu ganha-pão. O chefe pressionou-me bastante, tive deadlines muito apertados e lá me esforcei para cumpri-los. O meu ambiente de trabalho é deveras bom, os colegas apoiam de uma ou outra forma e, como sempre o Nelman no seu estilo meu sarcástico e meio cómico, vai fazendo o pessoal descontrair com suas piadinhas. Hoje a conversa girou em torno da homossexualidade. Ele não tolera gay.

_ Porra homem africano de verdade não pode ser gay, essas cenas começaram com os pulas. Nós não tínhamos tempo para desenvolver esses hábitos, os homens iam a caça e as mulheres faziam seus trabalhos próprios de mulher, não se via homem a acarretar água .

_ O homossexualismo é antigo Nelman, a Bíblia inclusive regista isso. Acrescentei.

_ Yá por isso mesmo, é coisa dos pulas. Eu não posso ser amigo de gay. Concluiu.

No final do expediente aproveitei actualizar meu blog e ler mais alguns emails. Neste interím, lembrei-me da poesia. É sobre este assunto que vou concluir meu texto hoje. O Lev´Arte, movimento incansável na promoção da arte, com destaque para a poesia, retornou ao local de origem. Foi há 3 anos que começamos (sou membro fundador do movimento) com o recital no espaço aconchegante do “The Kings Club”. Com sentimento nostálgico voltei ao espaço de então, senti-me alegre. A Quinha notou minha animação e ainda me questionou a causa dessa alegria porque quando falamos ao telefone eu estava sem ânimo, sentia-me cansado. (Um dia falarei mais sobre a Quinha, minha grande kamba).

Foi uma noite agradabilíssima, acreditem, a poesia faz magia, apazigua as almas dos fantasmas do dia. Foi bom rever amigos das lides poéticas, o Shinya Jordão, o Edson, o Nzacran Muntu a Nfumu, sempre irreverente na sua forma de declamar, o Kardo Bestilo nosso boss autor do livro Controverso e, tantos outros amigos da poesia. Aproveitamos dar-nos os kandandus. Na re-estreia do espaço, primeiro dia poético em 2010, a casa ficou abarrotada superando grandemente nossas expectativas apesar de já prevermos casa cheia. O Lev´Arte atrai boa gente para deleitar-se com aprazíveis momentos. Não será exagero dizer que é o único movimento em Angola com essa dinâmica para promover a arte poética. Todas as quintas-feiras do ano, de modo incansável, mesmo muitas vezes sem espaço apropriado para o efeito (por exemplo na praça da independência a céu aberto e sem instrumentos sonoplasticos).

A noite foi recheada de cor e som e palavras. Teodósio Paulo, Kimbalambe e Gino Sacra, estes jovens me convencem a cada dia com sua poesia já madura. O Kiokamba Cassua, nosso apresentador sacou grandes palmas e a plateia em histeria vibrou com o seu famoso poema “gotinhas do meu sangue” bem como o Wilmar Tembo com a magia nos dedos e nos lábios que dedicou uma música linda à Bárbara Sindoka. Outro artista da música foi o Day Mond que veio da Alemanha onde vive há mais de dez anos, a plateia em pé vibrou. Um dos momentos altos também foi a presença do jornalista desportivo Sílvio Capuepue que teve um momento de franco diálogo com a plateia sobre o CAN Orange Angola 2010. Respondeu a perguntas da plateia sobre a fraca divulgação do referido certame, falou também dos grupos e principalmente do grupo de Angola e concluiu dizendo que devemos manter um otimismo moderado porque até a nossa selecção não está muito bem preparada mas vamos a luta. Ainda sobre o CAN, vários artistas associam-se a festa contribuindo com sua arte, o declamador Molhado Arte foi um dos que deu seu show com um poema sobre o ansiado evento.

Concluo dizendo mais uma vez que a noite foi o máximo, fiquei inspirado. Também dei meu show fazendo-me de fotógrafo com posições acrobáticas para sacar umas boas pictures e, declamei o poema “recital do quotidiano” do livro Mátria. Dei boleia as meninas Nhali e Carolina, amantes da poesia e com o Fernandinho a acompanhar-nos. O rock desse cantor cristão é contagiante. Cheguei a casa e dei o beijinho da praxe a madame. Agora vou mesmo é deitar-me, não, vou antes ler alguns versículos da Bíblia e depois um banho gostoso e cama. Aleluia.

Mulemba waxa Ngola, 07 de Janeiro de 2010. 23:59´.