Viajo na obra e na sensibilidade de Lueji Dharma. Literalmente. E o faço em um entardecer de Maio do ano de Cristo de 2011 a uma altitude de 36 mil pés.
O avião rasga a imensidão dos céus da Amazônia brasileira em um vôo de cruzeiro na rota entre Brasília, no Planalto Central, e Boa Vista, no Estado de Roraima, amplo espaço de ocupação indígena na fronteira da Venezuela. É aqui nas alturas, distante dos afazeres mundanos, que a mente encontra serenidade para viajar pelos mais expressivos pensamentos e envolver-se nas maravilhas que a inteligência produz. Não foi sem razão, portanto, que reservei a leitura de Aldeia de Deus / Tchehunda tcha Zambi para um espaço e uma situação singular como esta.
A apreciação do livro necessariamente passa pelo conhecimento da autora. Sabem os viajantes que não se deve beber da água, por melhor aparência, sem que se conheça a fonte; não é prudente enveredar por desconhecidos caminhos sem que o guia seja absolutamente confiável. Por isso, dediquei instantes preliminares para refletir sobre Lueji, a jovem intelectual que encontrei em uma generosa tarde de domingo em Luanda. Era uma reunião de apresentação com intelectuais angolanos, do Movimento Lev’Arte, que me recepcionavam calorosamente; era a proximidade com a cultura nativa; e era a oportunidade reservada por Deus para conhecer uma dessas pessoas que fazem diferença, ou que, no dizer de Sócrates, têm uma presença que enche o templo.
Lueji Dharma pareceu-me assim, desde o primeiro instante: atenta, perspicaz, culta e de alma gentil. Sabia ouvir, que é mais do que escutar; sabia dizer, que é mais do que falar. E agora, a cerca de 10 mil metros sobre o nível do mar, percebo que também sabe escrever, que é mais do que agrupar as letras do alfabeto. E, nesse contexto, encontro-me diante da obra dessa jovem
Professor Léo da Silva Alves Brasília - Brasil autora, dominadora de preciosos dons e senhora absoluta das melhores virtudes.
Ao se referir à sua Aldeia de Deus, um paraíso de sexta dimensão onde só acedem espíritos de luz, usa expressões como “onde vivo desde que morri” e “velas perdidas numa floresta de enganos”; e emprega imagens de plantas e flores que brilham intensamente, onde é “possível sentir os cheiros com uma intensidade avassaladora”. De imediato, por conseguinte, introduz o leitor em um cenário mágico valendo-se da impressionante capacidade de manobra com a língua portuguesa.
Quando se avança pelas páginas esteticamente postas, surgem relatos e diálogos construídos com a arte da simplicidade, mérito que poucos conseguem alcançar nas veredas da literatura. São trechos que expõem as inquietações da vida; provocam reflexões sem rodeios acerca das mazelas ou relações sociais; e trazem conclusões objetivas recolhidas da sabedoria do povo. É o que se vê, por exemplo, quando aponta o risco da “estupidificação total” pelos hábitos impostos pela burocracia laboral; ou quando explora os mistérios do amor, “um sentimento sem amarras”, como diz com convicção.
Há louváveis construções filosóficas, como “a realidade deixa de ser aquela que todos vêm e passa a ser aquilo em que acreditas”; e há momentos poéticos mesmo na prosa: “Não te sintas frustrada, por não saber o futuro.
Apenas Sê! Apenas faz!”.
É certo que a autora envolve o leitor em uma estória de bem sequenciada narrativa, e manipula as cenas e os personagens de forma a provocar sensações mescladas de enlevo e de inquietação.
Enfim, é um livro. O que significa substancialmente muito mais do que um projeto, algo muito além de um texto publicado.
O comandante avisa que são 19h15. As cortinas da noite cerram as portas do horizonte como percebo cá nos céus da Amazônia. O avião se Professor Léo da Silva Alves Brasília - Brasil
aproxima do pouso e a leitura se aproxima do fim. Foi uma bela viagem com uma escritora de sentimentos nobres, que tem talento, conteúdo e energia para se afirmar como orgulho da cultura escrita em Angola e na África.
“Há finais felizes! Basta acreditar e desejar…”, é o fecho do livro. Que outro encerramento eu poderia escolher aqui nas alturas para a avaliação da obra e da autora? Somente poderia – como faço – imaginar para Lueji a mais promissora carreira literária. Com produção de qualidade como esta, basta acreditar, basta desejar.
Brasil, Maio de 2011.
Léo da Silva Alves
Jurista e escritor brasileiro
O avião rasga a imensidão dos céus da Amazônia brasileira em um vôo de cruzeiro na rota entre Brasília, no Planalto Central, e Boa Vista, no Estado de Roraima, amplo espaço de ocupação indígena na fronteira da Venezuela. É aqui nas alturas, distante dos afazeres mundanos, que a mente encontra serenidade para viajar pelos mais expressivos pensamentos e envolver-se nas maravilhas que a inteligência produz. Não foi sem razão, portanto, que reservei a leitura de Aldeia de Deus / Tchehunda tcha Zambi para um espaço e uma situação singular como esta.
A apreciação do livro necessariamente passa pelo conhecimento da autora. Sabem os viajantes que não se deve beber da água, por melhor aparência, sem que se conheça a fonte; não é prudente enveredar por desconhecidos caminhos sem que o guia seja absolutamente confiável. Por isso, dediquei instantes preliminares para refletir sobre Lueji, a jovem intelectual que encontrei em uma generosa tarde de domingo em Luanda. Era uma reunião de apresentação com intelectuais angolanos, do Movimento Lev’Arte, que me recepcionavam calorosamente; era a proximidade com a cultura nativa; e era a oportunidade reservada por Deus para conhecer uma dessas pessoas que fazem diferença, ou que, no dizer de Sócrates, têm uma presença que enche o templo.
Lueji Dharma pareceu-me assim, desde o primeiro instante: atenta, perspicaz, culta e de alma gentil. Sabia ouvir, que é mais do que escutar; sabia dizer, que é mais do que falar. E agora, a cerca de 10 mil metros sobre o nível do mar, percebo que também sabe escrever, que é mais do que agrupar as letras do alfabeto. E, nesse contexto, encontro-me diante da obra dessa jovem
Professor Léo da Silva Alves Brasília - Brasil autora, dominadora de preciosos dons e senhora absoluta das melhores virtudes.
Ao se referir à sua Aldeia de Deus, um paraíso de sexta dimensão onde só acedem espíritos de luz, usa expressões como “onde vivo desde que morri” e “velas perdidas numa floresta de enganos”; e emprega imagens de plantas e flores que brilham intensamente, onde é “possível sentir os cheiros com uma intensidade avassaladora”. De imediato, por conseguinte, introduz o leitor em um cenário mágico valendo-se da impressionante capacidade de manobra com a língua portuguesa.
Quando se avança pelas páginas esteticamente postas, surgem relatos e diálogos construídos com a arte da simplicidade, mérito que poucos conseguem alcançar nas veredas da literatura. São trechos que expõem as inquietações da vida; provocam reflexões sem rodeios acerca das mazelas ou relações sociais; e trazem conclusões objetivas recolhidas da sabedoria do povo. É o que se vê, por exemplo, quando aponta o risco da “estupidificação total” pelos hábitos impostos pela burocracia laboral; ou quando explora os mistérios do amor, “um sentimento sem amarras”, como diz com convicção.
Há louváveis construções filosóficas, como “a realidade deixa de ser aquela que todos vêm e passa a ser aquilo em que acreditas”; e há momentos poéticos mesmo na prosa: “Não te sintas frustrada, por não saber o futuro.
Apenas Sê! Apenas faz!”.
É certo que a autora envolve o leitor em uma estória de bem sequenciada narrativa, e manipula as cenas e os personagens de forma a provocar sensações mescladas de enlevo e de inquietação.
Enfim, é um livro. O que significa substancialmente muito mais do que um projeto, algo muito além de um texto publicado.
O comandante avisa que são 19h15. As cortinas da noite cerram as portas do horizonte como percebo cá nos céus da Amazônia. O avião se Professor Léo da Silva Alves Brasília - Brasil
aproxima do pouso e a leitura se aproxima do fim. Foi uma bela viagem com uma escritora de sentimentos nobres, que tem talento, conteúdo e energia para se afirmar como orgulho da cultura escrita em Angola e na África.
“Há finais felizes! Basta acreditar e desejar…”, é o fecho do livro. Que outro encerramento eu poderia escolher aqui nas alturas para a avaliação da obra e da autora? Somente poderia – como faço – imaginar para Lueji a mais promissora carreira literária. Com produção de qualidade como esta, basta acreditar, basta desejar.
Brasil, Maio de 2011.
Léo da Silva Alves
Jurista e escritor brasileiro
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