quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Segredos do Club K - Mesa Bicuda com José Gama

Boa tarde, é com imenso prazer que o recebo nesta MESA BICUDA onde revelámos almas e segredos numa conversa bicuda, sobre os homens por detrás dos sonhos e dos projectos.

Para quem não o conhece, tenho que o descrever como um dos principais rostos invisíveis do Club K. Para quem não conhece o Club K acredito não estar a cometer nenhuma gaffe ao descrevê-lo como um portal de informação, opinião, sem pretensões jornalísticas ou partidárias. De alguma forma são considerados a fonte de informação por excelência na internet, e constituem já uma referência no quotidiano mwangolê.



Quem é o José Gama nas suas palavras?

Considero fazer parte do grupo de jovens que está comprometido com os valores cívicos e morais que norteiam uma sociedade democrática e civilizada. Somos do tipo de jovens que não conseguem permanecer indiferentes à injustiça, independentemente da cor política, do poder e do suposto status de algumas pessoas. No fundo apenas procuramos ajudar no processo de humanização e democratização que o nosso país está a atravessar. Muitas outras pessoas se identificam connosco e procuram-nos mas sentem-se presos e atados a uma auto-censura. Esquecem-se muitas vezes que o próprio executivo é o primeiro a beneficiar com este processo.



Como surge o Club K na sua vida? E Porquê?

O Club-K surgiu em finais de 2000 como uma organização virada para a defesa dos direitos cívicos dos angolanos sobretudo o que estão na diáspora que é a nossa base. Em 2002 criamos o portal para passar a informar sobre as nossas actividades. Mas dado o afluxo de informação acabamos por disponibilizar no nosso portal algumas análises de informação para os nossos leitores.



No quotidiano ouve-se dizer que o Club K é da Unita, outros que é do MPLA, que é do Sinfo... O Club K tem alguma conotação política ou governamental?

O Club-K tem uma conotação cívica. É normal que quando dizemos que os da UNITA ou da FNLA devem ser também tratados como irmãos e que não devem ser marginalizados, surge este ou aquele a julgar que a nossa conotação é pró essa força partidária. Estamos apenas a zelar pelo direito de cidadania e liberdade de expressão de todos e que querem salvaguardar a nossa constituição. Por outro lado, e por uma questão de insenção e justiça, também dizemos às pessoas de outros partidos que não podem olhar para o MPLA como um instrumento com vocação à violacao dos direitos das pessoas ou à corrupção. No MPLA também é possível encontrar um trabalho digno e muitas pessoas de valor.

Certamente estas dúvidas prendem-se com o facto de o Club K partilhar na net informação sigilosa que só alguns círculos do poder podem aceder... como justifica esse acesso do club K?

O mistério não está no CK, mas sim na sociedade política angolana que se fez fechada no ponto de vista da circulação da informação. Talvez devido a uma estratégia proveniente de um país de guerra, em Angola, faz-se tabu e sigilo de tudo. Suponhamos que se divulgue com antecedência que o Presidente vai por motivos médicos em viagem para Espanha. Uma informação normal, que mais tarde é divulgada em comunicados oficiosos e que o CK apenas teve o privilégio, talvez por não termos uma estrutura burocrática, de a divulgar em primeira mão. Esta informação antecipada é que confere sucesso ao Club K.

Uma das grandes críticas ao vosso trabalho prende-se com os comentários lamentáveis que aparecem em rodapé. Muitos deles difamatórios e sem qualquer fundamento e que põem em causa o bom nome e dignidade dos visados. Qual a vossa posição em relação a esta “desinformação”?

Quanto aos comentários que se fazem no CK é da responsabilidade de quem os faz, mas cabe a nós censurarmos as ofensas através do sistema de filtro. Infelizmente, temos estado a perder a batalha contra tais comentários visto que as pessoas usam outras formas de o fazer sem que nos apercebamos. Mas a luta continua, e aproveito para apelar a estes camaradas que optemos por um debate construtivo, crítico ou mesmo contraditório, para sermos vistos como pessoas sérias e úteis à nação.



Fala-se de censura em Angola. Como é possível então ao Club K um portal feito por angolanos continuar a manter-se na crista da informação?



Nunca sentimos alguma censura.

Mas também temos de salientar que trabalhamos fora de Angola. Mas não duvido da existência de uma pressão sobre os angolanos no país.



Muita da informação que vocês lançam tem sido desmentida pelos próprios intervenientes... como garantir a credibilidade das vossas informações?

Pelo contrário, raramente são desmentidas. Se assim fossem o Club-K estaria totalmente descredibilizado e ninguém faria dele a sua fonte de informação. Nós somos rigorosos nas pesquisas. Pode haver falhas em tecermos nomes de forma errada mas as pessoas ou algum erro gramatical que consideramos lapsos normais. Há dias informamos que o PR iria visitar o Sambizanga, isso foi numa quarta feira e na sexta feira verificou-se. Foi um facto e assim acontece sempre.



Muitos jornalistas não se revêem na forma como vocês trabalham a informação. Especialmente por não haver confirmação no local, com os intervenientes, expôr-se nomes, emitir juízos de valores, etc. É a notícia a qualquer custo?

A realidade mostra-nos o contrário. Os jornalistas em Angola são os que mais se revêem no nosso trabalho. Se não fosse verdade nao viríamos os nossos textos a serem retomados pela imprensa angolana e internacional. Nós nunca tivémos represálias, não atacamos as pessoas, atacamos os procedimentos, a corrupção, a violação dos direitos do homem. Os angolanos esclarecidos devem agora enveredar por uma campanha de solidariedade e humizadora no sentido de se reduzir as violações à constituição. Não se trata de atacar personalidades mas aumentar os índices de solidariedade no nosso país, pela exigência da defesa da vida humana.

Nós trabalhámos à distância mas isso não põe em causa a veracidade do nosso trabalho. Fazemos também reportagens no terreno, e no interior do pais. O que mais publicamos são análise de informação baseadas em documentos, comunicados... para prestar este tipo de serviço não é necessário estar dentro dos gabinetes dos governantes ou ligado aos serviços de informação jornalística. Hoje temos a internet, e pode-se receber documentos de todo o mundo e disponizá-los de imediato para todos



E o que você pensa do jornalismo em Angola?

É um jornalismo conforme a nossa realidade.



Qual o seu maior sonho?

O meu maior sonho é fazermos de Angola um mundo onde todos se sintam parte responsável nos desígnios do país, com deveres e direitos. Um mundo em que ninguém é agredido por ter opinião diferente. Entendo que é através das nossas diferenças que poderemos construir o debate com ideias para a construção de uma nação em Angola.



Qual o maior sonho do Club – K em termos de realização?

O CK considera já ter alcançado o “nosso sonho” que é de contribuir para que as pessoas tenham informação para poderem agir com maior consciência da realidade. Temos de construir um pais assente na verdade e honestidade.



Um segredo bicudo que queiras revelar?

Não há segredo, todos que me conhecem sabem que a minha vida é um livro aberto tal como a do Duncan de Shaskespeare.

Qual o preço da realização deste sonho?

O preço pelas nossas opções é o de dedicarmos mais tempo à causa do que à familia. Quando não bem gerido causa instabilidade humana. Há um preço que podemos pagar no futuro por não podermos ser admitidos em empresas porque fomos inconvenientes com alguns poderosos do sistema. Mas o preço do silêncio às constantes violações praticadas contra outros nossos compatriotas seria incomparavelmente superior.



O que te tira o sono?

Quando sei que um policia matou ou que o governo mandou prender o Agostinho Chicaia por pensar diferente. Saber que outros aceitam porque aprenderam a encarar as prisoes arbitrárias como normais. Desconhecem os seus valores constitucionais por isso que acham que a policia tem o dever de assassinar até por causa da agua como aconteceu no Cacuaco



Obrigada José Gama por esta conversa elucidativa. Espero poder ter ajudado a esclarecer os nossos potenciais leitores. A Mesa Bicuda é um espaço que embora livre, cuida por um ambiente pacífico onde a verdade é encontrada pela sabedoria, insenção e diplomacia, ie, sem recorrer a ataques que apenas nos separam. Talvez, acabe por ter menos impacto, mas também sei, que poderá ser uma ponte para unir em vez de separar. Num ambiente de reconciliação nacional, o diálogo vale mais que um debate aceso onde os ataques ofuscam a verdadeira essência das pessoas e dos trabalhos que queremos conhecer. O discurso típico do "vale tudo" é explícitamente proibido. Vale tudo se for para engrandecer a todos. Busca-se conhecimento e não desentendimento, num espírito de amor pelo próximo.

A Bicudeira!

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