O Sábio encantou o público que teve o prazer de ver desvendado o poeta por detrás dos poemas. Numa desarticulação do Ser, confirmou a negação do ego, em detrimento de um homem que busca acima de tudo a evolução espiritual. Experiência a experiência, mot a mot, o poeta revela-se em profecias que pintam nas telas do presente, o futuro que se almeja. Um futuro assente em princípios que se defendem num vai-vém frenético, sobre o palco, onde o microfone serve de altifalante. Um vai-vém frenético que acompanha o grito da alma que clama o nascimento desse novo mundo. E como qualquer parto, a dor contorce-se em espasmos que se sabe terem fim à vista. Após a tormenta, a alegria viverá.
No final, os princípios de Sábio resumem-se aos do filósofo português Àlvaro Ribeiro:"cultura da fraternidade universal e o culto prestado a Nosso Pai".
Humilde e a tentar vencer o ego que o persegue, verbaliza um pensamento íntimo: "Não invento nada apenas tento seguir a máxima de Cristo: amar o próximo como a mim mesmo". E deixa-se guiar por um cristianismo iluminado por horas de meditação. Sábio reconhece na dor e na aflição desafios para vencer o egocentrismo que vê no centro do mal.
E como quem foge de si mesmo, refugia-se na meditação para imaginar mundos que ponham fim à fealdade que ofusca a beleza que descreve em poemas.
O amor à Arte e ao próximo levam-no a vencer o isolamento para enfrentar os palcos luandenses, desfilando palavras ritmadas pelo cantar da alma tantas vezes incompreendido. É com tristeza que diz "do mesmo modo que me aplaudem também me atiram pedras. O que tento fazer é juntar as duas partes e crescer; porém, a tendência é cair na auto-censura". Uma auto-censura que se impõe no limite do que pode ser ofensivo para outro ser. É nesse sentido que evita incorrer na banalização, na vulgarização da palavra e no discurso retórico.
Embora reconheça na capacidade de "poetizar" um dom, sente que tudo seria mais fácil se todos pudessem partilhar das mesmas inspirações e visões. É neste sentido que questiona: "Porquê que não somos todos poetas?"
Este paradigma permanece insolúvel na sua mente, e mesmo perante uma biblioteca recheada de livros de poetas que teve o prazer de ler não consegue encontrar resposta. Na biblioteca que recebeu de herança paternal pôde ler Fernando Pessoa, Viriato Neto, Agostinho Neto, António Jacinto, Camões... e embora de forma natural começasse a escrever poemas aos 11 anos, entende que a sua evolução como homem das artes reside nessas horas de leitura que partilhou com esses autores.
Perante a questão de como define a poesia, Sábio não hesitou em descrevê-la como "uma expressão do sentimento em estado de oração".
E como quem pretende embalsamar a dor no mundo grita no vai-vém frenético de animal de palco: Vai passar... vai passar a dor, a fome, a falta de sexo...
"Vai passar", "Vai mudar" soam a canções de embalar ao comum dos mortais que tenta todos os dias manter a fé num futuro melhor. E Sábio a fugir a esta moralidade mundana remete-se a responsabilidade de viver a liberdade poética em mundos da vanguarda profética.
"Vai passar, vai mudar" ... porque é assim que Sábio antevê o futuro no presente.
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1 comentário:
Parabéns Lueji.Ñão assisti o evento mais achei bem interessante e madura a postagem aqui da tua entrevista com o Sábio. De fato, das uma grande Jornalista pois tenho lido várias vezes as tuas matérias e é deveras realçar que são informativas e interessante.
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