O dia é comemorado em mais de 100 países.
Ao desconcerto do MundoLuís de CamõesOs bons vi sempre passarNo Mundo graves tormentos;E pera mais me espantar,Em mar de contentamentosOs maus vi sempre nadarCuidando alcançar assimO bem tão mal ordenado,Fui mau, mas fui castigadoAssim que, só pera mim,Anda o Mundo concertado.
NoiteAgostinho NetoEu vivonos bairros escuros do mundosem luz nem vida.Vou pelas ruasàs apalpadelasencostado aos meus informes sonhostropeçando na escravidãoao meu desejo de ser.São bairros de escravosmundos de misériabairros escuros.Onde as vontades se diluírame os homens se confundiramcom as coisas.Ando aos trambolhõespelas ruas sem luzdesconhecidaspejadas de mística e terrorde braço dado com fantasmas.Também a noite é escura.
AUTO-RETRATO
Bocage
Magro, de olhos azuis, carão moreno,Bem servido de pés, meão na altura,Nariz alto no meio, e não pequeno:Triste de facha, o mesmo de figura,Incapaz de assistir num só terreno,escura De zelos infernais letal venenoMais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
Devoto incensador de mil deidades,
(Digo de moças mil) num só momento
Inimigo de hipócritas e frades
Eis Bocage, em quem luz algum talento
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia, em que se achou cagando ao vento.
A abelha que, voando, freme sobre
Ricardo Reis
A colorida flor, e pousa, quaseSem diferença dela
À vista que não olha,
Não mudou desde Cecrops. Só quem vive
Uma vida com ser que se conhece
Envelhece, distinto
Da espécie de que vive
Ela é a mesma que outra que não ela.
Só nós - ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte! -
Mortalmente compramos
Ter mais vida que a vida.
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