O Neo-Realismo na Poética de Agostinho Neto
Nada mais nos resta acrescentar senão, convidar os que ainda não adquiriram o seu exemplar à faze-lo e os que já o fizeram para sem receio beberem das palavras do O neo-realismo na Poética de Agostinho Neto.
Kardo Bestilo
1. Comprimentos,
Senhoras e senhores, meninas e meninos:
Kiambote!
Devo começar por dizer que o Lev´Arte teve o privilégio de ouvir a apresentação da tese que serviu como base para o livro que nos é dado a conhecer hoje, e desde o primeiro momento que ouvi e conversei com a Júlia, que subtilmente fui pressionando-a a passar para o próximo desafio que era o do livro, porque nós acreditamos que o que é bom deve ser partilhado. Quando a Júlia ligou para mim para dar a grande noticia “Venci o Prémio Sonangol Revelação!”, o meu coração pulou de alegria, mas sabia já aí que o nosso país acabava de ganhar uma nova escritora com o direito a todo o mérito que um prémio com o peso nacional como Prémio Sonangol Revelação poderia certamente oferecer. Um grande país não é grande apenas por ter muito ferro ou petróleo, mas sim por ter seres humanos possuidores de uma grandeza intelectual.
2. O que trata o livro?
A autora nasce dois anos antes de Neto partir, mas não fez deste facto um motivo para se desligar da nossa história.
Quando se fala de Neto muito facilmente apesar de se mencionar a existência do Poeta, muitas são às vezes em que o mesmo é ofuscado pelo peso do político. Nesta singela obra a escritora ou melhor Júlia Talaia, propositadamente afasta-se da análise do político e concentra-se simplesmente no Poeta. O trabalho da escritora vai contribuir para a nossa história com uma pesquisa feita pelo seu próprio povo, e o que é um povo que apenas bebe da água alheia senão um cliente?!
Júlia Talaia demonstra e muito bem como Neto inspira-se no quotidiano para pintar os seus quadros poéticos.
Júlia Talaia vem e chega sem dúvidas num momento em que a nossa literatura não apenas Angolana, mas africana em geral precisa de analistas e historiadores desta mesma África “berço da humanidade” mas com sérias dificuldades em se afirmar como berço da intelectualidade. A referida escritora lançou-se sem margens de dúvidas num compromisso desde a sua nascente, hoje, até para lá das fronteiras da angolanidade, pudemos aqui afirmar sem medo de errar que é aqui firmado um “Pacto Patriótico”.
3. Como trata o livro?
O que é analise:
Não é em palavras simples nada mais do que olhar afundo uma coisa, parte por parte de acordo com o Dicionário da Porto Editora.
Júlia Talaia nesta obra merecedor do prémio revelação leva-nos por intermédio da palavra escrita à uma singela abordagem na forma como nos é apresentada, mas profunda nos sentidos e pensamentos desmistificados que nos são expostos, a perceber o que o Poeta nos transmite. É bem verdade que Poesia é uma Arte muito subjectiva por norma, mas pelo facto de se tratar de uma arte é onde precisamente também existe o espaço para quebrar as regras ai já existente. E é precisamente isso que o Poeta Agostinho Neto nos oferece nos trabalhos submetidos ao exame de Júlia Talaia.
A norma em algum momento foi o realismo, o que nas palavras da própria escritora “nada mais era do que descrever o que era vivido ou visto”, com a quebra da regra padrão realismo, foi introduzido o neo-realismo ou simplesmente novo realismo. Os Poetas começaram a questionar as razões ou os porquês das coisas serem assim, então um Poema que simplesmente descrevia que eu sou um escravo, no neo-realismo passou a ser escrito além desta descrição, quer dizer, salientando porquê que eu sou escravo? Esta dimensão neo-realista encontra-se nos escritos do Poeta Agostinho neto, como menciona Júlia Talaia:
“O discurso neo-realista fortaleceu em Neto o desejo de ver livre a terra que o viu nascer”
Este livro que começou como uma tese individual como já aqui foi referido, passará agora a ser uma ferramenta de trabalho e estudo para a nossa sociedade em particular e para o mundo em geral. A pessoa que muitas vezes se afasta da leitura de Poemas devido a dificuldade em interpretar textos e poemas, o estudante do curso de letras, pode agora contar com explicações na leitura de um poema de Agostinho Neto. Ele entenderá que cada palavra escrita no poema não foi colocada por mero acaso, ela tem um valor simbólico, uma importância social para o homem colonizado e para a expressão do desejo de transformar a sociedade, um sonho alimentado pela estética neo-realista. Portanto, deverá ser analisada dentro do contexto da época para ser entendida.
“Notemos, por exemplo, no poema (Adeus à Hora da Largada) marcas evidentes da denúncia que Neto emitia na maior parte dos seus versos”:
Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas do Mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areais ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico
somos os teus filhos
dos bairros pretos
além onde não chega a luz eléctrica (…)
Aqui importa acrescentar a análise da própria Escritora faz após citar o trecho do poema apresentado anteriormente:
“Constatamos, aqui, referências de aspectos da vida diária da gente da sua terra; nada muda no quotidiano dessa gente, tudo é uma constante: desde o amanhecer até ao anoitecer. É objectiva a descrição que Neto faz sobre o ambiente social imposto pelos colonizadores, deixando transparecer um inconformismo por parte do poeta que se expressa de forma pluralizada”.
4. O inconformismo pelas situações impostas
A obra mostra-nos esta característica existente nos escritos de Neto, apesar de focar-se na poética também apresenta-se no conto, mais especificamente em Náusea, que é um conto curto mas denuncia veemente a vida social durante a época colonial, como nos mostra o trecho extraído da página 60 do livro:
“Da sua cubata de Samba Kimôngua, velho João (…)
(…) passou pela ponte e pisou a ilha. Mas não já a mesma ilha dos tempos antigos. Pisou uma ilha sem areia, asfaltada, com casas bonitas onde não moram pescadores.”
Segundo a autora esta disparidade constitui-se numa reflexão acerca da vida dos negros, tal como constatámos nos poemas já estudados, ou seja, a exclusão do negro em todos os domínios sociais.
1. Comprimentos,
Senhoras e senhores, meninas e meninos:
Kiambote!
Devo começar por dizer que o Lev´Arte teve o privilégio de ouvir a apresentação da tese que serviu como base para o livro que nos é dado a conhecer hoje, e desde o primeiro momento que ouvi e conversei com a Júlia, que subtilmente fui pressionando-a a passar para o próximo desafio que era o do livro, porque nós acreditamos que o que é bom deve ser partilhado. Quando a Júlia ligou para mim para dar a grande noticia “Venci o Prémio Sonangol Revelação!”, o meu coração pulou de alegria, mas sabia já aí que o nosso país acabava de ganhar uma nova escritora com o direito a todo o mérito que um prémio com o peso nacional como Prémio Sonangol Revelação poderia certamente oferecer. Um grande país não é grande apenas por ter muito ferro ou petróleo, mas sim por ter seres humanos possuidores de uma grandeza intelectual.
2. O que trata o livro?
A autora nasce dois anos antes de Neto partir, mas não fez deste facto um motivo para se desligar da nossa história.
Quando se fala de Neto muito facilmente apesar de se mencionar a existência do Poeta, muitas são às vezes em que o mesmo é ofuscado pelo peso do político. Nesta singela obra a escritora ou melhor Júlia Talaia, propositadamente afasta-se da análise do político e concentra-se simplesmente no Poeta. O trabalho da escritora vai contribuir para a nossa história com uma pesquisa feita pelo seu próprio povo, e o que é um povo que apenas bebe da água alheia senão um cliente?!
Júlia Talaia demonstra e muito bem como Neto inspira-se no quotidiano para pintar os seus quadros poéticos.
Júlia Talaia vem e chega sem dúvidas num momento em que a nossa literatura não apenas Angolana, mas africana em geral precisa de analistas e historiadores desta mesma África “berço da humanidade” mas com sérias dificuldades em se afirmar como berço da intelectualidade. A referida escritora lançou-se sem margens de dúvidas num compromisso desde a sua nascente, hoje, até para lá das fronteiras da angolanidade, pudemos aqui afirmar sem medo de errar que é aqui firmado um “Pacto Patriótico”.
3. Como trata o livro?
O que é analise:
Não é em palavras simples nada mais do que olhar afundo uma coisa, parte por parte de acordo com o Dicionário da Porto Editora.
Júlia Talaia nesta obra merecedor do prémio revelação leva-nos por intermédio da palavra escrita à uma singela abordagem na forma como nos é apresentada, mas profunda nos sentidos e pensamentos desmistificados que nos são expostos, a perceber o que o Poeta nos transmite. É bem verdade que Poesia é uma Arte muito subjectiva por norma, mas pelo facto de se tratar de uma arte é onde precisamente também existe o espaço para quebrar as regras ai já existente. E é precisamente isso que o Poeta Agostinho Neto nos oferece nos trabalhos submetidos ao exame de Júlia Talaia.
A norma em algum momento foi o realismo, o que nas palavras da própria escritora “nada mais era do que descrever o que era vivido ou visto”, com a quebra da regra padrão realismo, foi introduzido o neo-realismo ou simplesmente novo realismo. Os Poetas começaram a questionar as razões ou os porquês das coisas serem assim, então um Poema que simplesmente descrevia que eu sou um escravo, no neo-realismo passou a ser escrito além desta descrição, quer dizer, salientando porquê que eu sou escravo? Esta dimensão neo-realista encontra-se nos escritos do Poeta Agostinho neto, como menciona Júlia Talaia:
“O discurso neo-realista fortaleceu em Neto o desejo de ver livre a terra que o viu nascer”
Este livro que começou como uma tese individual como já aqui foi referido, passará agora a ser uma ferramenta de trabalho e estudo para a nossa sociedade em particular e para o mundo em geral. A pessoa que muitas vezes se afasta da leitura de Poemas devido a dificuldade em interpretar textos e poemas, o estudante do curso de letras, pode agora contar com explicações na leitura de um poema de Agostinho Neto. Ele entenderá que cada palavra escrita no poema não foi colocada por mero acaso, ela tem um valor simbólico, uma importância social para o homem colonizado e para a expressão do desejo de transformar a sociedade, um sonho alimentado pela estética neo-realista. Portanto, deverá ser analisada dentro do contexto da época para ser entendida.
“Notemos, por exemplo, no poema (Adeus à Hora da Largada) marcas evidentes da denúncia que Neto emitia na maior parte dos seus versos”:
Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas do Mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areais ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico
somos os teus filhos
dos bairros pretos
além onde não chega a luz eléctrica (…)
Aqui importa acrescentar a análise da própria Escritora faz após citar o trecho do poema apresentado anteriormente:
“Constatamos, aqui, referências de aspectos da vida diária da gente da sua terra; nada muda no quotidiano dessa gente, tudo é uma constante: desde o amanhecer até ao anoitecer. É objectiva a descrição que Neto faz sobre o ambiente social imposto pelos colonizadores, deixando transparecer um inconformismo por parte do poeta que se expressa de forma pluralizada”.
4. O inconformismo pelas situações impostas
A obra mostra-nos esta característica existente nos escritos de Neto, apesar de focar-se na poética também apresenta-se no conto, mais especificamente em Náusea, que é um conto curto mas denuncia veemente a vida social durante a época colonial, como nos mostra o trecho extraído da página 60 do livro:
“Da sua cubata de Samba Kimôngua, velho João (…)
(…) passou pela ponte e pisou a ilha. Mas não já a mesma ilha dos tempos antigos. Pisou uma ilha sem areia, asfaltada, com casas bonitas onde não moram pescadores.”
Segundo a autora esta disparidade constitui-se numa reflexão acerca da vida dos negros, tal como constatámos nos poemas já estudados, ou seja, a exclusão do negro em todos os domínios sociais.
Nada mais nos resta acrescentar senão, convidar os que ainda não adquiriram o seu exemplar à faze-lo e os que já o fizeram para sem receio beberem das palavras do O neo-realismo na Poética de Agostinho Neto.
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