quarta-feira, 9 de junho de 2010

ROSA EM TEMPO DE CHUVA

Rosa de há tempos
quando voltaste
uma rede de amor
amuletos de sedução
no balaio de certezas
carne em festa e
um certo coração,

rosa de agora que ficaste
a magia esquecida
entre os dedos sofrida
energia detida
em frasco de perfume,

quero-te rosa,
mas, a esterilidade do gesto
e a superficialidade do toque
um fogo quase afogado
encubado,

rosa, quero que voltes
mas não fiques,
cumpre a tua missão
de nuvem carregada e
dá-me a tua chuva. Apenas.

{A.S.
in S.O.S.}



A Rosa era uma jovem mulher negra. E tenho para mim que o seu apelido era Bonita. Dizia-se que tinha estado em Portugal a estudar e de la’ voltado assim: feita Joana Maluca dos anos 80. Rosa Bonita e Joana Maluca, duas mulheres-simbolo do pior tipo de violencia que pode ser exercido sobre a mulher: a sua coisificacao sexual enquanto deficiente mental; Rosa Bonita e Joana Maluca, duas mulheres-testemunho do pior mal de que pode enfermar toda uma cidade, toda uma sociedade: a total indeferenca, quando nao "divertimento", com que os seus casos eram “olhados”…

Enquanto a Joana Maluca “exercia o seu mister” nas ruas e bordeis do Bairro Operario dos anos 60 e 70, servindo os contingentes de tropa portuguesa que ali eram despejados em camiões, a Rosa Bonita “exercia-o” nas ruas e hoteis da Baixa Luandense, servindo os cooperantes estrangeiros do pos-independência.

Mas, se da Joana Maluca dos meus tempos de miuda eu tinha medo, fugia dela quando a via, da Rosa Bonita nao: era muito simpatica, trazia sempre um sorriso nos labios e uma flor no cabelo. Vi-a varias vezes gravida – nao sei o que foi feito dos filhos…

Um dia quis ter uma conversa com ela. Uma conversa como um banho de chuva que lhe lavasse o corpo e a alma e soltasse o seu perfume original. Uma conversa que a fizesse voltar a si. Apenas.


Just Poetry (XIV)

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