segunda-feira, 21 de junho de 2010

Trienal-2010 já mexe

Organizada sob auspícios da Fundação Sindika Dokolo, com a sugestiva designação “Geografias Emocionais, Arte e Afectos”, a segunda Trienal Internacional de Luanda que irá decorrer de 13 de Setembro a 19 de Dezembro de 2010 já se tornou motivo de notícias na imprensa local e não só, pela sua dimensão e também pela campanha levada a cabo pelo seu conceptor, Fernando Alvim.


O artista plástico fez, recentemente, a apresentação do evento em uma conferência de imprensa, no hotel Globo, em Luanda, e a mesma teve a concorrência tanto de jornalistas, como de artistas e outros aficcionados do mundo das artes. A Trienal incluirá no seu cronograma duzentos eventos artísticos e culturais. A par desses atractivos, o evento propõe-se a uma “análise profunda da sociedade angolana, incorporando projectos voltados para as ciências e novas tecnologias, sugerindo um sistema aberto e abrangente para o acesso as artes visuais, pintura, fotografia, instalação, sessões de teatro, música, dança, projecção de vídeos, literatura, intervenções urbanas, educação e desporto, produzidas por artistas angolanos, africanos e internacionais”. De acordo com a organização, a Trienal sugere, no campo de observação, uma análise poética e factual do pensamento contemporâneo. Para tal, constituiu uma equipa de 32 elementos que incansavelmente trabalha diariamente na concertação de ideias e pormenores técnicos para o êxito do evento que já está a despertar maior interesse do público estudantil, dos artistas, turistas e não só. Desta vez, o seu raio de acção estender-se-á também as cidades de Benguela, Huambo, Lubango e Namibe, que num espaço de quinhentos metros quadrados em cada uma delas, proporcionarão ao público local os melhores momentos de lazer, formação e informação em diferentes áreas das artes. Luanda, por sua vez, contará com cinco espaços com uma extensão de cinco mil metros quadrados. A par destas cidades, a Trienal Internacional de Luanda aponta ainda para outras dez cidades africanas, oito europeias, duas americanas e igual número asiáticas. No que diz respeito a performance artística, a Trienal Internacional de Luanda reserva para o grande público 28 concertos, tendo para o efeito um espaço estruturado em cinco salas: de audição, exposição discográfica, Voz do Semba, auditório visual, conferências e debates sobre a historiografia da música popular angolana.

ATELIER DO CORVO

O Atelier do Corvo, projecto arquitectónico a ser lançado no decorrer da Trienal, é uma intervenção que pretende envolver finalistas de cursos de arquitectura das universidades locais que elegerão como temas de trabalho preocupações suas de natureza social, ambiental e espacial, para as quais a organização procurará em conjunto obter respostas e soluções com o auxílio de metodologias de projecto em arquitectura. De acordo com o arquitecto angolano Carlos Antunes, a quem coube a apresentação do referido projecto, um dos mitos da produção arquitectónica contemporânea é o de estar no centro dos acontecimentos para existir. O Atelier inclui uma exposição em aberto sobre o trabalho desta mesma oficina e desenvolvimento “in loco” de projectos com os estudantes de arquitectura angolanos. Além da mostra, a Trienal contribuirá para a formação, em regime profissional, de finalistas de arquitectura como complemento didáctico do seu ensino académico, de modo a incentiva-los a prosseguir para a prática profissional em regime liberal e aproximar o público dos agentes de projectos. O arquitecto deu a conhecer que esta iniciativa será desenvolvida em três fases, sendo a primeira de selecção de candidatos e as duas últimas de eleição e desenvolvimento das propostas de trabalho. Para o efeito, serão pré-seleccionados cinquenta candidatos, dos quais dez serão seleccionados para desenvolver o trabalho com a equipa do Atelier do Corvo. Os trabalhos serão desenvolvidos ao nível de um estudo prévio simplificado num período de dez horas diárias. Assim sendo, a consolidação e desenvolvimento das propostas ao nível do projecto base para a apresentação ao público será efectuada de 6 a 19 de Setembro de 2010. De acordo com a organização, as fases 1 e 2 do projecto serão acompanhadas pelo antropólogo e escritor Luís Quintais que actualmente se encontra empenhado num “trabalho de antropologia cognitiva” sobre o Atelier do Corvo. No final de todo o processo, o mesmo produzirá um documento. Este Atelier já foi constituído pelos arquitectos Carlos Antunes e Désiré Pedro, em Coimbra, Portugal, e desde 1988 tem conseguido manter uma produção, reflexão e críticas arquitectónicas de elevada qualidade, através de um pequeno número de colaboradores fixos, ao que se soma “um grupo significativo de jovens estudantes de arquitectura’’.

Augusto Nunes
Fonte: O País

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