segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

A Irreverência de Yannick Ngombo


O músico Yannick Ngombo alcançou recordes nacionais pela comercialização de 15 mil cópias do seu álbum de estreia, intitulado "mentalidade". Yannick arrastou, no estádio dos Coqueiros, em apresentação oficial, cerca de 22 mil fãs, que vibraram, energicamente, ao longo do espetáculo. É o músico do momento e a sua irreverência conduziu-nos à análise que se segue.

N'vunda Tonet

O contacto preliminar em direcção aos propósitos musicais de Yannick começou pela difusão de letras como "ta calor", na velocidade do candongueiro no ritmo das discotecas e nas festas de quintal. A simpatia que granjeou, desde então, supôs que o resultado artístico não tardar. Ledo engano.


Os amantes da música de intervenção social tiveram de se despir da paciência humana e aguardar por treze anos. O sacrifício registrou dois recordes nacionais: a enchente na venda e participação popular no primeiro espetáculo.


O artista usa a liberdade de expressão como resultado da actividade imaginativa que tem um longo período de caracterização mental, tal como recorda Vigotski "Toda actividade imaginativa tem sempre uma longa história atrás de si. O que chamamos criação não costuma ser que um catastrófico parto em conseqüência de uma longa gestação".


A construção melódica configura a demonstração inequívoca e sublimar do conjunto de sentimentos, atitudes e modo de estar na sociedade de um visionário desmedido. Enquanto agente social é propedêutico resumir o alcance das mensagens contidas no álbum "mentalidade".
Os amantes da música, revêem-se nessa construção, classificando como verdadeira e comum. Por uma série de perturbações anímicas, as pessoas notam, neste álbum, algo que faltava nas suas trajectórias. Uma ponte de diálogo servirá em curto espaço de tempo para sensibilização social nas campanhas em curso no país.


É imperioso observar que a persistência do seu autor, fez carregar para as composições uma plêiade de temas do dia-a-dia que perpassam pelos anéis da sociedade, ou seja, desde o pedreiro, lavador, construtor, enfermeiro, taxista, estudante ao empresário, gerente bancário, ministro.
Numa entrevista concedida à imprensa nacional, o músico assegurou as suas letras estarem na alçada do seu percurso enquanto pessoa. Este aspecto gnosiológico espelha, nitidamente o reconhecimento memorável da sua sinceridade.


Em jeito de tempestade moral, a intervenção musical de Yannick Ngombo revela a observação participante de um indivíduo que analisa a conjuntura social de maneira directa e exógena, expressando as emoções da sociedade angolana que, apesar dos índices de crescimento alcançado nos últimos tempos, ainda se desconhece socialmente.


Quando se ouve o álbum "mentalidade" deve-se despir de convencionalismo e estereótipos, focando unicamente a vigilância na descrição moral da pretensão do autor, que é convocar os intervenientes sociais para uma profunda reflexão em torno das nossas vidas ou em última síntese da perspectiva cívica da conduta humana.


BREVES

Literatura – Na sequência das correntes d´escrita que decorreu de 11 a 14 de Fevereiro na Povoa do Varzim, Portugal, a editora caminho promoveu em Lisboa entre os dias 16 e 19 do mês em curso, um encontro com os escritores da nova vaga da literatura brasileira. Os escritores brasileiros, Amílcar Bettega, João Paulo Cuenca e Daniel Galera foram recebidos pelos homólogos portugueses Jose Luís Peixoto e Gonçalo Tavares e pelo angolano Ondjaki. De acordo com uma nota de imprensa da Editora Caminho, o encontro serviu para os leitores se informarem do que se passa de novo na literatura portuguesa nos dois lados do Atlântico.

Projecto – O historiador Simão Souindoula esteve presente na reunião do Comitê Cientifico Internacional do Projecto da Unesco "Rota dos Escravos" que decorreu de 17 a 19 de Fevereiro em Paris, capital de França.


Participaram do encontro 20 especialistas de diversas nacionalidades, sendo Angola representada pelo historiador Simão Souindoula. No encontro, os especialistas abordaram os "novos eixos" de desenvolvimento dos programas e foram igualmente propostos, pelos peritos da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, a realização de actividades de carácter memorial, documental, lingüístico e antropológico.

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